Imagine a seguinte cena: dois produtores rurais, ambos com terras e negócios voltados para o cultivo de milho. Ao final da colheita, um deles tem certeza de que obteve lucro, enquanto o outro está perdido, sem saber se teve um resultado positivo. É nesse momento que entra a contabilidade rural.
Essa ferramenta auxilia o produtor nas tomadas de decisão, contribuindo para uma melhor organização do trabalho, da economia e das finanças da propriedade. Com isso, ele se torna mais preparado para acompanhar a constante evolução do setor.
Atualmente, muitos empresários do agronegócio já enxergam a contabilidade como um recurso essencial para administrar melhor suas atividades e alcançar melhores resultados. Essa percepção, no entanto, é relativamente recente, já que, até pouco tempo atrás, nem todos compreendiam como a contabilidade poderia impulsionar o desenvolvimento das atividades rurais.
Você vai ler:
- Como funciona a contabilidade rural?
- O que diferencia a contabilidade rural da contabilidade convencional?
- Quais são os principais desafios ao aplicar a contabilidade rural em propriedades de pequeno e médio porte?
- Como a análise dos custos de produção pode otimizar a tomada de decisões no agronegócio?
- Culturas Temporárias e Permanentes na Contabilidade Rural
- De que forma a tecnologia, como softwares de gestão, está transformando a contabilidade rural?
- Perguntas frequentes
Como funciona a contabilidade rural?
O setor de contabilidade é extremamente versátil e dinâmico, precisando se adaptar constantemente para atender às mais diversas demandas do mercado de trabalho. O agronegócio, por exemplo, é uma área que apresenta particularidades específicas, ao envolver processos como plantio, colheita e comercialização da safra.
Em outras palavras, trata-se de uma produção sazonal. Isso significa que nem todo o ano o setor agrícola possui produtos disponíveis para comercialização, já que é diretamente influenciado pelas condições climáticas e pelos ciclos naturais.
Dessa forma, na contabilidade rural, o exercício social corresponde ao ano agrícola, diferentemente da contabilidade tradicional, em que o exercício social corresponde ao ano civil completo (de janeiro a dezembro).
O que diferencia a contabilidade rural da contabilidade convencional?
Como vimos, a contabilidade rural e a contabilidade convencional possuem algumas diferenças. Isso porque a contabilidade convencional lida com empresas industriais e comerciais, enquanto a contabilidade rural está voltada para a pecuária e os negócios agrícolas. Vamos fazer um adendo para entender o que é o empresário rural.
Por lei, empresário rural é a pessoa física ou jurídica que realiza atividades de exploração da capacidade produtiva da terra ou da água. Seus objetivos são diversos, podendo incluir a produção vegetal, a criação de animais e a industrialização de produtos.
Conforme o artigo 249 da Instrução Normativa (IN RFB) n.º 1700, de 14 de março de 2017, são consideradas atividades rurais:
Art. 249. A exploração da atividade rural inclui as operações de giro normal da pessoa jurídica em decorrência das seguintes atividades consideradas rurais:
I – agricultura;
II – pecuária;
III – extração e exploração vegetal e animal;
IV – exploração de atividades zootécnicas, tais como apicultura, avicultura, cunicultura, suinocultura, sericicultura, piscicultura e outras culturas animais;
V – cultivo de florestas que se destinem ao corte para comercialização, consumo ou industrialização;
VI – venda de rebanho de renda, reprodutores ou matrizes;
VII – transformação de produtos decorrentes da atividade rural, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura, feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matéria-prima produzida na área rural explorada, tais como:
Quais são os principais desafios ao aplicar a contabilidade rural em propriedades de pequeno e médio porte?
A contabilidade rural também enfrenta diversos desafios ao longo do processo. Um dos principais é a informalidade de alguns produtores, especialmente os de pequeno e médio porte, que muitas vezes não enxergam a contabilidade como uma ferramenta de gestão financeira, mas somente como uma obrigação para estar conforme a legislação.
Como consequência, é comum a ausência de registros importantes, como despesas de custeio, Livro-Caixa, fluxo de caixa, entre outras informações essenciais. Isso dificulta significativamente a análise financeira e a tomada de decisões estratégicas no negócio rural.
Além disso, a área contábil pode ser complexa para alguns produtores, que desconhecem muitas vezes termos técnicos como ativos biológicos, culturas temporárias e permanentes, cálculo de depreciação e exaustão, entre outros. Essa falta de conhecimento faz com que não percebam a importância desses registros e análises em sua atividade.
Outro ponto relevante é a escassez de especialistas na área. Nem todos os contadores possuem conhecimento específico em contabilidade rural, o que pode comprometer a qualidade das informações geradas. Ademais, alguns produtores rurais podem considerar a contratação de serviços contábeis especializados como um investimento elevado, contribuindo para a resistência à adoção de práticas contábeis mais adequadas.
Como a análise dos custos de produção pode otimizar a tomada de decisões no agronegócio?
A análise dos custos de produção no agronegócio é essencial para otimizar a tomada de decisões, ao permitir ao produtor rural compreender detalhadamente onde estão sendo aplicados os recursos, quais áreas demandam mais investimento e onde é possível reduzir despesas sem comprometer a produtividade.
Elementos como depreciação, amortização e exaustão fazem parte dessa análise. A depreciação, por exemplo, representa a perda de valor de bens como tratores, máquinas, gado reprodutor e culturas permanentes. Ao reconhecer essa perda, o produtor pode planejar a reposição desses ativos e entender seu impacto no custo de produção ao longo do tempo.
A amortização, por sua vez, permite calcular corretamente o valor dos direitos temporários, como o uso de terras de terceiros ou concessões, distribuindo esse custo ao longo do período de uso. Isso evita distorções na análise financeira de determinado ciclo produtivo.
Já a exaustão está ligada à retirada de recursos naturais do solo, como ocorre no corte de eucalipto ou colheita de cana-de-açúcar. Saber aplicar corretamente esse conceito ajuda a mensurar o custo real da produção, principalmente em culturas onde o solo ou os recursos naturais são explorados diretamente.
Portanto, ao analisar esses custos corretamente, o produtor rural consegue avaliar a viabilidade econômica de suas atividades, ajustar estratégias, negociar melhor com fornecedores e tomar decisões mais informadas sobre investimentos, produtividade e rentabilidade.
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Culturas Temporárias e Permanentes na Contabilidade Rural
Dois termos essenciais para o registro correto dos custos, avaliação e patrimônio no agronegócio são as culturas temporárias e as culturas permanentes. Essa classificação serve como base para o planejamento tributário e financeiro, garantindo decisões estratégicas mais eficazes para o negócio. Assim:
Culturas temporárias
As culturas temporárias são aquelas sujeitas ao replantio após a colheita. Nesse modelo, todos os custos relacionados à formação do plantio, como sementes, fertilizantes, inseticidas, demarcações, entre outros, são contabilizados no Ativo Circulante, classificados como estoque. Após a colheita, essa conta é baixada para a conta Produtos Agrícolas.
Culturas permanentes
As culturas permanentes, por sua vez, estão vinculadas ao solo, possuem duração superior a um ano e proporcionam mais de uma colheita, como árvores frutíferas, cana-de-açúcar, cafeicultura, entre outras.
Diferentemente das culturas temporárias, nesse modelo a empresa deve registrar todos os custos necessários para a formação do plantio, como sementes e adubação, no Ativo Não Circulante. Após a conclusão da formação da cultura, etapa que pode levar anos, o valor registrado na conta Cultura Permanente em Formação é transferido para a conta Cultura Permanente Formada.
De que forma a tecnologia, como softwares de gestão, está transformando a contabilidade rural?
A tecnologia desempenha um papel fundamental na transformação da contabilidade rural, especialmente por meio de softwares de gestão. Esses sistemas possibilitam o controle integrado das informações financeiras, fiscais e operacionais, otimizando o tempo e reduzindo erros que antes eram comuns em registros manuais.
Num mercado de trabalho cada vez mais dinâmico, a atuação do profissional contábil tornou-se mais estratégica. Com o apoio de plataformas específicas para o agronegócio, como o Sistema Makro, contadores podem gerar relatórios precisos, acompanhar os custos de produção em tempo real, analisar o desempenho das atividades e oferecer dados confiáveis para a tomada de decisões.
Além disso, o software contém todos os departamentos integrados, oferecem suporte técnico e mentoria especializada, contribuindo para uma gestão mais eficiente e para o crescimento sustentável do negócio. Dessa forma, a tecnologia não somente facilita os processos contábeis, como também eleva o papel do contador a um nível mais consultivo e essencial dentro do agronegócio.
Perguntas frequentes
Em suma, o produtor rural deve emitir notas fiscais, declarar o Imposto de Renda, recolher o Funrural e manter registros contábeis atualizados conforme sua atividade.
O Livro-Caixa registra todas as receitas e despesas da atividade rural. Ele é essencial para comprovar rendimentos, facilitar a declaração do IR e apoiar decisões financeiras.
Os principais são o Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), Funrural e, em alguns casos, ICMS e ITR, dependendo do porte e da operação do produtor.
A contabilidade organiza os dados financeiros, demonstra a capacidade de pagamento e fornece relatórios que aumentam a confiança de bancos e instituições financeiras.